domingo, 28 de agosto de 2016

De jogos, moradas e amores


              Estar ali novamente já não era surpresa, porém a colina estava diferente; havia muitos jovens, um pouco adiante de mim, jogando um jogo de tacos que eu não entendia muito bem. Fiquei de pé olhando, eles não pareciam me ver, afinal, eu não era do seu tempo e espaço, comecei a me sentir uma espécie de invasora.
             " Gosta de jogos?"
             Assustei-me com a pergunta e ao meu lado estava ele, não mais menino e nem tão jovem, mas muito longe de ser velho, bem próximo do início da vida adulta, mas os olhos quentes e brilhantes e o sorriso eram do menino, como se ele sempre o carregasse em si, como se o menino fosse eterno.

              " Já gostei, hoje não tenho tanta certeza"
              " As pessoas se revelam bastante nos jogos, não há como se esconder quando se joga. Jogos físicos, jogos de palavras. Fazem pactos ou os quebram, aprendem ou não, são justas ou injustas. A única coisa que não dá para ser em um jogo é não ser você mesmo. Não gosta mais de conhecer a si e as pessoas, menina? Então não precisa mais de tanto sol?"
               "Não sei, eu nem sei o que estou fazendo aqui." E ele riu, riu muito, me fazendo rir também.
               " Como é engraçado o não saber, porém ainda mais é o pensar que sabe. Vamos! Quero te mostrar algo."
                E o acompanhei em uma caminhada não muito longa, havia tantas árvores frutíferas e água corrente, e o sol era alto e claro, mas sem queimar. Paramos no alto de uma colina, de onde se via uma construção circular de pedra, muito antiga.
              " Há coisas pelo qual se lutar, menina, sua identidade e sua morada são uma delas, essa é a minha morada, tive que lutar por ela, mas antes tive que saber quem sou, e sabendo quem sou, o outro não teve como negar o que é meu por direito. Esperteza? Talvez. Mas o que é nosso, onde nossa essência nasce e descansa, ninguém pode nos tirar. Descubra sua morada, descubra onde quer nascer e descansar. E continue a jogar."
              Os olhos dele brilhavam bastante, tanto quanto o sol ou os olhos de uma criança feliz descobrindo o mundo. E isso me aquecia e sorri.
              " Você muda rápido e com frequência." Comentei e ele me olhou.
              " E você não? Há sempre algo a que se desejar, sonhar e proteger. Há sempre um amor no caminho da vida, que aparece como um doce sonho e por ele devemos quebrar o determinante e se transformar, por ele ser de nenhum espaço e ser de todos. Mergulhar, ficar e alçar voo. E um amor assim é a esperança que acalenta os corações e por ele se monta exércitos, por ele se luta e busca a verdade. E deve ser escondido da destruição, deve ser protegido na estufa, com luz solar, das ambições e injustiças, porque essas sempre estarão à espreita tentando o sufocar e o matar. E eu, menina, estou aqui quando a esperança se acaba, quando o amor e os sonhos estão em risco. Sou o sol sempre jovem, sempre menino, em um riso e uma doce canção. Sou Óengus Mac Og."
             E não mais menino ou jovem, era um cisne que voou no horizonte, e a gratidão cobria meu coração. E estava de volta no meu tempo e espaço, mas sabendo que espaços e tempos são voláteis. E que algo dele brilha em mim, brilha em todos.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Descendência

            Não me surpreendi por mais um dia parar naquela mesma campina e vestida com aquelas roupas que não eram as minhas e no tempo que não era o meu, já esperava o menino aparecer com suas bochechas coradas e seus olhos quentes, mas ao invés dele veio a mim um rapaz, com os mesmos olhos, traços e gestos do menino; era ele sem dúvida, trazia na mão uma harpa dourada e sorriu sentando-se à minha frente como no dia anterior.
              " Está diferente hoje, crescido." Eu lhe falei.
             " São tão ligados à forma, mas fico feliz que já me reconheça, esse é um grande passo, um passo para a essência."
              " Linda harpa! É um instrumento com um dos sons mais lindos, como se não tivesse sido criado por humanos"
               Ele sorriu e pôs-se a tocar, e a melodia era de imensa doçura, nunca ouvira nada igual, o que torna difícil descrever por não haver comparação com nenhuma outra no meu mundo conhecido, nem no canto dos pássaros mais melódicos, apesar de lembrar muito a beleza do canto dos pássaros, porém de nenhum que de fato existisse. E a sensação que me causou também não era tão simples de ser dita, entrei em estado contemplativo, de plena beleza, como se algo nascesse dentro de mim, algo como o amor nos primeiros dias. E o sorriso e as lágrimas se misturaram na minha face.
             " Esse é um dos papéis da música, tocar os sentimentos de tal forma que seja algo primeiro. Meu pai também tem uma harpa, a dele toca as estações, as muda, as cria. Faz o mesmo com os sentimentos, com uma melodia para se alegrar, chorar e sonhar. Parecemos muito com os nossos pais, o nosso modo é apenas a interpretação da forma que eles nos deram. Meu pai dá a abundância da terra, eu dou a abundância da alma. Minha mãe nutre a terra, eu, a alma, ela é um rio, assim como eu, pode ser a vida, como a morte. Depende de que lado do rio você está. Ou crer que o amor, os sonhos e a esperança só tem esse lado encantador da bela harpa? Quando eles transbordam, às vezes eles matam, matam para nascer, não há uma face sem a outra. Quantas guerras não são capazes para minha realização?"

             Fiquei ali, parada, enquanto ele desaparecia, e em tempo, eu voltava para o agora.

Continua...

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

O Nascimento

       
     
         Abri os olhos e ao meu redor estava um mundo desconhecido, não era nada desse tempo, era algo muito antigo, eu não mais me vestia com as roupas que dormira, o que ficava claro que aquilo era um sonho e o abrir os olhos era só uma metáfora para enxergar com alma.
         As minhas roupas eram completamente brancas e na minha cabeça estava uma coroa de flores primaveris, me senti meio criança vestida daquela maneira. Estava em uma belíssima colina, onde o sol nascia em uma perfeita alvorada, as sombras da noite iam aos poucos se desvanecendo e as tonalidades de rosa e vermelho enfeitavam todo o céu e um vento ameno percorria o amanhecer.
          "Foi nessa hora que fui gerado, sou semente da alvorada"
          Virei-me assustada para a voz que me falava, jurava está sozinha, mas não estava. O menino de cabelos louros, bochechas rosadas e olhos azuis se aproximou e sentou-se à minha frente.
           "Ouviu o que disse?" Assenti com a cabeça, não conseguia falar, aqueles olhos azuis eram quentes como brasa e a beleza do menino era tamanha que não podia ser humana. Ele riu, riu, provavelmente, do meu medo, era um riso tão forte e brincalhão, e acabei por rir também. "Percebe que é nessa hora que nasce a esperança no mundo? É nessa hora que as coisas tem potencial de ser?
             " Como se chama?"
             "Nomes são, realmente, importantes?"
              "Suponho que eles nos dão identidade"
              " Supõe errado. As vivências nos dão identidade. Nomes são apenas desejos, desejos e lembranças. É melhor que saiba os motivos do meu nome, do que ele próprio."
               " Sim, parece algo bom"
               " Fui gerado na alvorada e nascido no entardecer, em um dia que durou nove meses. Veja!"
               Ele colocou as mãos nas minhas têmporas, as mãos eram tão quentes, que pareciam capazes de me queimar, fui transportada para um espaço diferente, um lugar feito de pedras, escuro e frio, senti medo, muito medo, porém a luz solar entrou por uma fresta da construção, enchendo tudo de claridade e calor.

             "Viu?" A voz dele me trouxe de volta e ele ria sentado na minha frente.
            "Não vi seu nascimento"
            " Vocês nunca entendem nada. A volta da luz solar foi por muitos séculos a esperança que enchia os corações humanos. Hoje, vocês vivem no escuro e frio, mas não sabem em que ter esperança, por isso não sabem quem eu sou."
           E, simplesmente, desapareceu, o que me fez acordar, sentido em mim ainda o calor do menino.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

A Rainha Loba, Luca, Lupa ou Lupina


A rainha Lupina certamente é uma das personagens míticas da Península Ibérica que mais me intriga, como se ela movesse a canção da minha alma, e este é o motivo principal de eu escrever esse texto. Outro ponto é o de que, como estudante de Druidismo, essa lenda galega traz em si muitos elementos da antiga espiritualidade celta na Ibéria, o que pretendo deixar claro no decorrer do texto. Como uma figura mítica, o conhecimento da rainha parte tanto de uma fonte literária cristã (combativa à fé pagã), quanto do imaginário popular, e ambos serão a base desse estudo. Porém algumas hipóteses pessoais serão abordadas, não como verdades absolutas, mas como possíveis ligações e questionamentos, pois alguns elementos simbólicos nos levam a elas.
Primeiro ponto: Quem é a Rainha Lupina? (também chamada de Loba, Lupa ou Luca, usamos aqui o termo mais utilizado)

O nome Lupina, em si, é um nome latino, mas o que não é suficiente para afirmar que ela seja uma entidade romana, pois com a chegada dos romanos na Península Ibérica muitos dos deuses e encantados das populações que ali viviam, sofreram latinização em seus nomes, como as janas, que passaram a se chamar de ninfas. Com o decorrer do texto, veremos que os simbolismos de Lupina, em grande maioria, são do imaginário dos celtas da Iberia.
A literatura clássica a liga ao culto jacobeu do Apóstolo Santiago, onde ela aparece como uma rainha real, devota da fé pagã, que possuía uma imagem do Iúpiter Celta (Júpiter na Península, parte de uma interpretatio de deuses celestes celtas, como Reue, o deus dos montes elevados), que dominava o poder da magia e que fez de tudo para que os discípulos não levassem o corpo do apóstolo ao Pico Sacro, onde em uma das covas estava o castelo da rainha. Porém com fé os discípulos vencem a rainha e ela se converte a fé cristã. Algumas coisas importantes a se dizer esse respeito: a Rainha inicialmente toma a figura de espécie de Meiga (mulheres que dominam a magia para “malefício” humano, a popular bruxa, uma designação própria da Ibéria), porém seus desafios aos discípulos, de controlar bois que se tornam touros selvagens e de vencer a serpente em que ela se torna, afirma sua condição de Moura (e não de Meiga). Outra evidência que reafirma isso é o de seu castelo estar ali, no Pico Sacro, lugar comum das moradas de mouras e mouros, além do fato de os discípulos lhe servirem vinho e de ela estar fiando quando chegaram.  O que vemos na lenda jacobeia não é nada mais do que a cristianização do Pico e a tentativa de apagar a fé pagã.
Nas histórias orais, coletadas no imaginário popular, ela realmente, aparece como uma moura encantada, uma rainha que possui um castelo em montes altíssimos, como o Pico Sacro (Santiago de Compostela) e o Monte Pindo (La Coruña), em castros e fontes. Ela faz trato com os humanos, fia, cuida dos rebanhos, guarda tesouros, tem servos e transforma-se em serpente, e aqui ela não se converte ao cristianismo, permanece com seu espírito selvagem de Rainha Moura.

As Mouras e Lupina

As mouras são chamadas também de princesas, moças e rainhas. Em base são seres encantados que cobriram e permanecem no imaginário da Península Ibérica, principalmente ao norte.
São vistas perto de covas funerárias, em covas dos altos montes e próxima das águas (em Astúrias e Portugal, as encantadas das águas também são chamadas de Xanas ou Janas, e tiveram ligação com a Deusa Nábia). Naturalmente são mulheres velhas ou jovens muito belas de cabelos ruivos ou loiros, e estão a fiar ou pentear os longos cabelos ou cuidando de rebanhos.
Essas encantadas possuem tesouros que oferecem aos homens, desde que não tenham medo do desafio proposto. Na maioria das vezes, as mouras se transformam em serpentes imensas e envolvem os corpos dos homens, e aqueles que não se amedrontarem receberão seu tesouro. As serpentes são um símbolo da mulher selvagem, a qual une em si a vida e a morte, a visão da Soberania que não pode ser simplesmente tomada, mas tem que ser conquistada. Só é digno de um tesouro quem não teme a morte e a Soberania feminina. Outro desafio é tirar uma flor da boca da serpente, o que também exige coragem.
Elas também fazem tratos com os homens em que sua prova é a fidelidade, pois têm que manter segredos ou cuidado com algo para então receberem o bem necessário, e a traição a uma moura naturalmente é punida com a morte.
A Rainha Lupina aparece também como essa mulher selvagem, que desafia os homens, até mesmo no caso dos discípulos do apóstolo, que tem que mostrar coragem para ter o que desejam. Em uma das histórias da cultura popular, ela alimenta os porcos de um pastor, os quais passam a engordar rapidamente. O pastor, curioso pela engorda misteriosa dos porcos, os segue e descobre que eles estão comendo no pasto de Lupina; ela lhe diz que, como recompensa, ele tem que lhe dar os melhores chouriços, porém a dona dos porcos, na hora da entrega, troca, propositalmente, os chouriços, e Lupina recebe o de menor qualidade, sendo assim punida por ela, devorada por serpentes e seu esqueleto permanecendo pendurado no castelo da Rainha.
A diferença real de Lupina com as demais mouras é a de que o seu epíteto de Rainha não é apenas uma delicadeza: ela de fato tem um castelo encantado, súditos, riqueza e rebanho.
Os simbolismos em Lupina e a possível ligação com Deuses da Ibéria Celta
   Partimos agora para entender os simbolismos dentro da lenda de Lupina e algumas hipóteses importantes a serem levantadas.
   O Pico Sacro é uma formação rochosa que fica no norte da Espanha, especificamente em Santiago de Compostela, Galiza. A lenda clássica nos conta que foi nesse local que os discípulos do apóstolo Santiago encontraram Lupina, uma rainha muito bela, muito branca e de cabelos ruivos. Enquanto ela fiava, eles lhes pediram bois para carregar o corpo até o alto do monte; eles lhe deram vinho e ela lhes deu os bois. Durante o translado, os bois se tornam selvagens touros, e aqui passamos a uma análise desse símbolo, os touros bravios. Um ponto a mais para ajudar-nos em alguns levantamentos de hipótese é o de que outra história sobre Lupina (essa não clássica, mas popular) nos conta que ela tinha servos que levavam seus touros a beberem águas no rio Ulla, o qual era parte da sua propriedade. Essa informação é muito importante, pois ela nos liga ao deus callaico-lusitano Bandua, cujo animal símbolo é o touro selvagem, e o rio Ulla foi uma região de sua devoção, portanto não podemos deixar tal ponto passar despercebido. Bandua era o deus dos ajuntamentos populacionais, ligado às batalhas e, se formos mais além, as aparições de Lupina perto dos castros e seus auxílios às comunidades não a distanciam dessas características de Bandua.
   A serpente, um dos símbolos de Lupina, foi um dos animais mais esculpidos em pedras e artefatos arqueológicos na Ibéria Celta, o que levou alguns pesquisadores acreditarem em um culto ofiolátrico na península, o que não se comprovou até hoje. Independente de um culto ou não da serpente, sua importância é sem igual no imaginário da Península. A serpente aparece como símbolo da fertilidade, vida, morte e magia. Ela é o elo da vida quando se mantém em círculo, talvez por isso, em algumas pedras, ela tenha sido grafada simbolizando a eternidade do amor. Sua troca de pele nos lembra o constante renascer; o seu veneno pode tanto ser a morte como a cura, e o viver embaixo da terra mostra a sabedoria do submundo.
   A crença de proteção ao entorno vital é perceptível tanto na Lúnula do Chão de Lamas, assim como nos torques. Sua relação com a morte está nos vasos funerários e nos dolmens.  Mas como já vimos nas mouras, ela é também o espírito da mulher selvagem e da Soberania, da mulher que conhece a sabedoria da vida e da morte, onde o prazer se encontra.
 Lunula Lusitana do Chão de Lamas

   O nome Lupina já foi analisado por muitos ângulos, mas não se chegou à uma conclusão definitiva, pois não houve uma confirmação de tal. Nossa ideia aqui é levantar uma hipótese que ainda não foi levantada, porém nem por isso podemos ignorá-la ou recear em fazê-lo, pois é uma hipótese entre tantas, que não tem pretensões de ser verdadeira ou única. Vamos a ela: a Península Ibérica era infestada por lobos e, se pudéssemos pensar em um animal símbolo da Ibéria, os lobos seriam eles. Mas qual o significado dos lobos para os antigos povos pagãos da península? O lobo era a fúria do guerreiro, e os soldados das confrarias uivavam como lobos assustando os soldados romanos. Acreditava-se que havia um rito iniciático nessas confrarias para despertar a licantropia, onde um homem carregaria em si a essência do lobo, e que esses guerreiros passavam por um processo mágico, tendo como iniciador provável o deus vetão Vaélico, Deus-Lobo, Senhor do Outro Mundo, dos mistérios da magia e do futuro. Então paramos para aproximar Lupina e seu nome dessa figura guerreira, e podemos colocá-la nessa relação como uma provável mulher que não só tinha em si o furor da batalha, como também era conhecedora dos mistérios do Outro Mundo e da magia. Ela era uma rainha encantada, uma figura mítica, não há registro algum da sua existência de fato, tinha bois encantados e dominava a magia, assim como a deusa irlandesa Medb.

Rainha Lupina: Uma Encantada ou Uma Deusa Perdida?
Essa pergunta é muito importante, apesar de não haver uma resposta de fato, apenas observações a se fazer. Dentro do folclore dos demais países celtas, vimos suas deusas se tornarem santas ou fadas. Há rainhas das fadas, mulheres feéricas que interagem com os humanos e até mesmo se casam com eles, e a eles também são postas condições a serem seguidas (que dizem muito sobre a soberania feminina) e a violação dessas condições trazem malefícios a esses homens. Por que na Península Ibérica seria diferente? As mouras são as feéricas da Ibéria, isso não me parece ser algo contestável.
Dentro do decorrer do texto, vimos a possível aproximação de Lupina com diversas divindades celtas. Seus símbolos são totalmente ligados à antiga fé pagã céltica e tem poucas relações com o misticismo romano, a não ser pelos costumes mesclados entre os dois povos.
A figura da Rainha Lupina, pode ou não ser de uma deusa perdida (ou até uma anexação de diversos deuses), uma deusa da Soberania, ligada à magia, à iniciação guerreira, vida, morte, sexualidade, fertilidade e terra, mas ainda sim diz muito sobre as crenças e devoções dos povos da Ibéria Celta, e ela foi totalmente usada pelo Cristianismo para evangelizar o espaço e apagar ou tornar reprovável qualquer resquício da fé pagã céltica na Península Ibérica.
Fonte Bibliográfica:
HOYOS, Ana Mª Vázquez – Los Posibles Cultos a la Serpiente y los Celtas en la Península Ibérica, p.349. Etnoarqueologia: 2007.
LLINARES, María del Mar – Las Relaciones entre cultura popular y Cultura Oficial: El Ejemplo de la Reina Lupa, p.57- in: Mouras, Ánimas, Demonios – El Imaginario Popular Galego – Madri: Akal Universitária, 1990.
__________________  Mouras Versus Hombres: la Imagen de la Mujer en La Cultura Popular, p.137 - in: Mouras, Ánimas, Demonios – El Imaginario Popular Galego – Madri: Akal Universitária,1990.
OLIVARES PEDREÑO, Juan Carlos – Bandua, el Protector de La Comunidad in: Los Dioses de la Hispânia Céltica -Madrid : Real Academia de la Historia : Universidad de Alicante, 2002. 

____________________________ El Dios Indígena Bandua y El Rito del Toro de San Marcos – Madri: Revista Complutum, ed.8, 1997.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Deusa Nábia - Última Parte

                                           Oração à Nábia



Oh, Nábia Corona,
Senhora dos altos montes,
Do instinto e força natural,
Ensina-nos a soberania,
Que brota dos pensamentos e intuições elevados
Como um cume de uma montanha
Que recebe as luzes solares,
Assim são as luzes da sabedoria,
Sabedoria de quem conhece o mais profundo de si.

Oh, Nábia das tribos,
Seu escudo e espada
São nossa proteção diária.
Um fogo sempre aceso
Mantém-nos unidos em sua presença
Diante de ti não tememos,
Guarda da nossa união,
Das nossas conquistas,
Guia e protetora das nossas batalhas,
Ao teu nome rendemos cada vitória.

Nábia, senhora das águas,
Do entremeio dos mundos,
Mãe nutridora,
De ti vem a fertilidade das nossas vidas,
O conhecimento íntimo da nossa existência humana,
Guia-nos nos mistérios da vida e morte.

Nábia da Callaecia,
Relembramos o teu nome
E rendemos graça,
Como nos tempos antigos,
Estás viva!

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Nábia - Parte IV

Nábia e o Cristianismo
Rio Nabão

Quando o cristianismo chega a uma determinada região e lá se estabelece, sua intenção é apagar os resquícios das religiões pagãs; isso não aconteceu apenas na Iberia, como em todos os locais em que ele se estabeleceu. Porém tal objetivo não é assim tão fácil, pois a fé não está apenas no espaço, mas na mentalidade das pessoas.

"Poderiam multiplicar-se os exemplos desta persistência, embora desvanecida, do antigo culto das águas nas tradições populares. As práticas rituais primitivas destas devoções religiosas ainda no século VI da era cristã eram conservadas integralmente entre muitas populações da Península, apesar da expansão do Cristianismo, pois sabemos, por exemplo, que S Martinho de Durine, na sua evangelização do território bracáreas condenava as superstições heréticas, arraigadas no povo, que continuava mantendo a crenças nas ninfas e noutras divindades do Panteão romano e dos anteriores cultos indígenas " (SANTOS JUNIOR, J.R & CARDOZO, Mário, 1953, p.57)

O culto a Nábia foi combatido por diversos lados. Era praxe nos montes construir templos cristãos sobre seus lugares de devoção, esconder os resquícios por meio da cristianização do espaço, fatos que a arqueologia traria à tona em seus achados; aras votivas foram encontradas na igreja São João do Campo e há possibilidade de que uma capela dedicada à virgem tenha sido construída em cima de um altar de devoção à Nábia em Penafiel.
Nas águas é que surge a figura da santa, Santa Iria de Tomar:

 "Segundo a lenda de Santa Iria, em 653, quando a jovem professa rezava próximo de Tomar, numa capela situada na margem do Nabão, terá sido morta e lançada ao rio, vindo o corpo a navegar até Santarém. Tratar-se-ia de uma freira do convento beneditino fundado em 640 por S. Frutuoso, bispo de Braga, na margem do Nabão? Ou, de facto, nunca passara de uma lenda incomprovada?
A poucos quilómetros de Tomar, e não longe do rio, há uma povoação que tomou o nome de uma santa, igualmente assassinada e atirada ao Nabão. Trata-se de Santa Cita, uma jovem freira, de época muito anterior à da outra mártir.
Poder-se-ia aceitar, inquestionavelmente, a existência destas duas virgens do martirológio cristão, como santas portuguesas, se não fossem as suas homónimas de regiões distantes com semelhante percurso hagiográfico. Pululam as santas Irena ou Irina, bizantina, grega e romana. Se atentarmos na Vitae de Santa Irina de Magedon, nas Balcãs, que a situa no ano de 305 e aponta o seu culto para o dia 5 de Abril (e aqui saliente-se a curiosa coincidência com a data do culto a Nabia, inscrita na ara de Marecos), constatamos que a santa, depois de torturada, é fechada num túmulo, e ao cabo de uns dias, quando o abrem, o corpo terá desaparecido, o que se torna uma situação muito idêntica ao da Iria peninsular!"(SOARES, Lina Maria, 2010, p.214)

A lenda da santa é a tomada do Rio Nabão pelo Cristianismo, é a tentativa de apagar os cultos das águas à Nábia, é tornar as águas culto à nova fé. Parte superior do formulário

De qualquer forma, as tentativas de apagar os cultos à Nábia não deram de todo certo, ou nem eu, nem outros, estaríamos falando dela hoje, pois nada na história da humanidade se apaga, só precisa ser relembrado; essa foi a idéia ao escrever sobre Nábia, pois ela ainda vive.
Fontes:

OLIVARES PEDREÑO, Juan Carlos - Los Dioses de la Hispânia Céltica– Madrid : Real Academia de la Historia : Universidad de Alicante, 2002.



SANTOS JUNIOR, J.R & CARDOZO, Mário - Ex- Votos às Ninfas em Portugal. Salamanca: Zephyrus - Revista de prehistoria y arqueología Vol. IV, 1953
SOARES, Lina Maria - Da Scallabis Romana a Sactarem: Espaços, Gentes e Lendas in: Espaços e Paisagens. Antiguidade Clássica e Heranças Contemporâneas. Vol. 3. História, Arqueologia e Arte, org. OLIVEIRA, Francisco et. all. Coimbra: Associação Portuguesa de Estudos Clássicos - APEC, 2010.

terça-feira, 10 de maio de 2016

Deusa Nábia - Parte III


As Faces de Nábia




Serra da Marofa - Beira Interior Norte, distrito da Guarda  


Por mais que nos textos anteriores essas faces já tenham sido tocadas, a intenção agora é colocá-las de uma maneira mais clara.


Nábia Corona:

O epíteto Corona, coronus e corua, designado a Nábia foi encontrado em inscrições de lugares ermos, nos altos montes, como em Mareco ( Penafiel), Monte de Pedrados, Sierra de San Pedro, Serra de Marofa e outros; nessas inscrições Nábia está relacionada ao deus romano Júpiter, o que não se é de estranhar, as características dadas a Júpiter na península nos dão a clara anexação de um deus local ao romano, muitos apontando para Reue, o Deus Celeste, ligado também aos altos montes e as águas das chuvas. Nábia Corona é a Nábia elevada, a Nábia dos montes, seu aspecto soberano e até mesmo celeste aparece aqui. É a Nábia que está acima do humano, e a ele rende graça pela sua elevação, afinal essa natureza selvagem não está no controle humano, mas é temida por ele.
Nábia, Guardiã da Tribo:

O nome de Nábia foi encontrado grafado nos Castros de O Picato (Nábia Arconunieca) e Penarrubia e outros núcleos populacionais, em alguns com os epítetos Sesmaca e Arconunieca, ambos termos ligados à localidade, o que a coloca como divindade tutelar de diversas populações; ela é a guardiã da tribo com seu escudo e espada, é a Nábia guerreira, que está junto com a tribo, protegendo-a e guiando-a em suas batalhas. Aqui ela se aproxima do humano, ela é Terra e Tribo, está intimamente ligada a eles.
Nábia das águas:

A Nábia das águas é a da Fonte dos Ídolos e dos rios Navia, Nabão e Neiva, e nesse ponto ela exerce duas funções, a de nutridora e de guia ao outro mundo. Suas águas nutrem a terra, permitem que os campos cresçam em abundância e os gados tenham os melhores pastos, a fertilidade é o que ela dá ao camponês, e ele lhe faz oferendas de carneiro, frutos e flores. Mas essas águas também são passagens para o Outro Mundo; ela é a que abre os portais, é o entremeio, a que permite o contato com o outro lado e também será a guia após a morte.

Concluindo:

A deusa Nábia é a deusa que une os Três Reinos celtas: a deusa celeste, a deusa da terra e das águas, então ela traz em si o axi-mundi. O que explica o porquê da sua devoção não ser semelhante com as demais deusas da Iberia Celta, de ela ter ultrapassado um único local e ter atingido todo Alto Douro.

Fontes:
MELENA, José L. - Un Ara Votiva in: VELEIA, Revista de Prehistoria, Historia Antigua, Arqueologia y Filologia Clasicas. Pais Vasco: 1984.
OLIVARES PEDREÑO, Juan Carlos - Los Dioses de la Hispânia Céltica– Madrid : Real Academia de la Historia :Universidad de Alicante, 2002.
VASCONCELLOS, J. Leite de - Religiões da Lusitânia, Volume II, Lisboa: Imprensa Nacional, 1905

sábado, 7 de maio de 2016

Deusa Nábia - Parte II

 Nábia e os Festivais



Navia de Suarna

             Na ária encontrada em Mareco ( uma cidade portuguesa extinta, hoje unificada a Penafiel), uma data nos dá um possível momento de celebração à Nábia, o mês de abril, o que a coloca no entremeio da chegada da primavera e do momento em que os pastores e agricultores sairiam para o campo, e os guerreiros para suas possíveis guerras, e pensando na Celtibéria e a ânsia guerreira, o tal era bem real.
            Na Fonte dos Ídolos as inscrições à Nábia vem ao lado de um homem que segura a cornucópia, símbolo de fertilidade; há muitas hipóteses a esse respeito, podendo esse ser mais um deus, o que não deixa de a cornucópia ter um forte significado. A fonte remete ao período romano na península, e os romanos são conhecidos pela unificação das suas crenças com os povos nativos, então o símbolo greco-romano ofertado à uma deusa celta não é de se estranhar, pelo contrário, reafirma a deusa Nábia em sua face de nutridora da tribo.
          Segundo Melena (1984), Nábia é a deusa dos montes, a deusa selvagem, portanto o espírito da vida. E em Abril essa força de vida está desperta. Essa força selvagem faz parte da fúria do guerreiro e do semear.
          E nesse momento que antecede a saída da tribo para seus trabalhos: pastorar, plantar e guerrear, é o tempo de fazer oferendas a Nábia, para que ela possibilite o terreno fértil, que suas águas nutram a terra, e as plantações cresçam em abundância, que o gado esteja protegido das doenças e saques, que a tribo esteja guardada e vigiada pelos seus olhos e os guerreiros protegidos por ela, e se tombarem nos campos de batalhas sejam guiados por ela ao Outro Mundo. Bem como ela seja a energia e força para isso.

Fonte:
MELENA, José L. - Un Ara Votiva in: VELEIA, Revista de Prehistoria, Historia Antigua, Arqueologia y Filologia Clasicas. Pais Vasco: 1984.

OLIVARES PEDREÑO, Juan Carlos -
Los Dioses de la Hispânia Céltica–
Madrid : Real Academia de la Historia : Universidad de Alicante,
2002.

SOARES, Lina Maria - Da Scallabis Romana a Sactarem: Espaços, Gentes e Lendas in: Espaços e Paisagens. Antiguidade Clássica e Heranças Contemporâneas. Vol. 3. História, Arqueologia e Arte, org. OLIVEIRA, Francisco et. all. Coimbra: Associação Portuguesa de Estudos Clássicos - APEC, 2010.

VASCONCELLOS, J. Leite de  - Religiões da Lusitânia, Volume II, Lisboa: Imprensa Nacional, 1905.



quarta-feira, 4 de maio de 2016

Deusa Nábia - Parte I

Fonte dos Ídolos

       O culto à Nábia estendeu-se por toda região norte do Rio Douro, resquícios de árias votivas foram encontradas em montes, fontes e castros. Muitos templos cristãos, aparentemente, foram construídos sobre seus altares de devoção.
       Popularmente conhecida como uma deusa guerreira, dos rios e fontes, fato bem perceptível devido a quantidade de rios com seu nome ( Návia, Neiva e Nabão) e a sua imagem na Fonte dos Ídolos em Braga, bem como a relação clara com a palavra 'navegar'; o que a coloca como uma possível psicopompo, condutora das almas para o Outro Mundo, sendo que esse simbolismo das águas, dentro da religiosidade celta, não pode ser ignorado.
       No entanto, o simbolismo das águas também está ligado às deusas nutridoras da terra, como as deusas gaélicas Danu e Boann , e  com a cura e a fertilidade no caso da Deusa Brighid, o que leva a crer que Nábia não tinha apenas uma face guerreira, porém também de nutridora da terra e uma relação real com a fertilidade e a magia, o que a aproxima de uma deusa da vida.
         Sua face guerreira aparece como protetora e guardiã da tribo, a presença de devoções em diversos castros enfatiza bem isso.
          A soberania é visível no epíteto Corona que acompanha muitas vezes o seu nome, ela é a 'coroada', como a Morrighan gaélica é a Rainha. Ela é senhora dos montes e outeiros, seu valor mágico e soberano se reafirma nisso.
           Sua oferenda eram os cordeiros, um animal de pastagem da tribo, ele além da carne, provém a lã e o leite, e a tribo lhe oferece o melhor. O melhor para Nábia Corona, para que os protegessem não só na guerra, e ataques a tribo, mas da fome e seca.
           Com base, nessas conclusões, Nábia é uma deusa da tribo, da nutrição da vida, condutora ao outro mundo e a guerreira que defende a tribo e ajuda os guerreiros.

https://m.youtube.com/watch?v=YqF4-CdyfUA

Fontes:
OLIVARES PEDREÑO, Juan Carlos - Los Dioses de la Hispânia Céltica–Madrid : Real Academia de la Historia : Universidad de Alicante, 2002.
VASCONCELLOS, J. Leite de  - Religiões da Lusitânia, Volume II, Lisboa: Imprensa Nacional, 1905.

quinta-feira, 17 de março de 2016

30 Dias Druídicos- 30° Conselho

           Depois de 30 dias, chego ao fim desse propósito; antes de entrar no texto, agradeço aqueles que acompanharam os dias e espero ter acrescentado, pelo menos um pouquinho, no pensar filosófico do Druidismo no Brasil. Em mim muita coisa foi acrescentada.
           Esse último texto será curto, pois acho que como conselho poucas palavras podem passa-lo bem. Então, o que deixo como conselho é ouça as notas do seu destino com justiça, honra e coragem, respeitando a tribo humana, e interconectado com toda a vida na terra, ouvindo as vozes dos antepassados, deuses, encantados e espíritos da natureza. Viva sua vida com inspiração e será lembrado com beleza.

quarta-feira, 16 de março de 2016

30 Dias Druídicos - 29° Futuro

            O passado tem sido o nosso início do caminho, mas sem futurologia; temos que pensar em nossos atos atuais que gerarão o futuro do Druidismo. As primeiras ordens druídicas e, mais distante ainda, os antigos povos celtas nos legaram uma tradição, que como no post anterior sobre caminho, tem sido vista, entendida e reconstruída por cada membro todos os dias.
           O que estamos fazendo agora será a tradição dos vindouros, e acredito que devemos pensar em que tradição estamos criando. Será ela é um exemplo digno de honra e coragem? Ela está acrescentado algo? Se a nós foi dado esse destino, seja por qual motivo for, identificação, pertencimento ou sangue, de está trilhando esse caminho espiritual e religioso, tão longe geograficamente dos antigos povos celtas, somos responsáveis pelo futuro dele.
              O Druidismo nos exige consciência e integração com a inspiração que brota da Grande Canção, por isso o futuro dependerá muito disso, aqueles que herdarão de nós a tradição, ouvirão nossas notas e para que a cada nova geração essas notas se tornem mais belas e afinadas, teremos que lhes entregar uma partitura digna de ser tocada, e ela está sendo tecida agora, no tempo e espaço presente.

terça-feira, 15 de março de 2016

30 Dias Druídicos - 28° Caminho


            Cada caminho tem suas formas e cores, mas todo caminho é uma construção, ele pode ter seu início lá deixado por alguém, só que quando outro pisá-lo e iniciá-lo, o caminho será outro, não que fujamos do que já foi estabelecido, porém nenhum caminhante que passa por uma estrada a vê da mesma forma que um antigo, como o rio que banha um, não é o mesmo que banha todos.
              O Druidismo como o caminho da inspiração, não é, portanto, estanque e cada caminhante o construirá ao seu modo, não se afastando das heranças, mas se apercebendo das coisas de seu modo distinto.
              O caminho tem seu início, mas como ele será trilhado e sentido não acredito ser possível ser posto em normas e modelos, o que sei é que seguir esse caminho é ouvir, até mais do que falar, é sentir, mais do que racionalizar.
             A tradição é importante, ela é o início do caminho, porém o que cada um fará com os ensinamentos da tradição, como o sentirá e o interpretará isso é muito individual, como cada nota em uma canção.

segunda-feira, 14 de março de 2016

30 Dias Druídicos - 27° Um Dia Druídico

           Como imaginar um único dia druídico? Como seria ele?
           Depois de 26 dias falando sobre a vida com um viés druídico, resumir isso em um único dia é algo bem coerente.
            Se eu pudesse viver o Druidismo apenas hoje, acordaria pela manhã pensando na maravilha de estar viva, e guardaria boa parte do dia para estar sozinha, ouvindo o silêncio, que logo se tornariam vozes vindas da minha alma; eu ouviria atentamente o que elas dizem, quais são seus medos, desejos e seu caminho na vida. Nessas vozes viriam os padrões ancestrais e minhas crenças. E a partir daí, sairia pelo mundo vendo e ouvindo com mais atenção.
            Curar a mim mesma, a tribo e o mundo seria algo tão claro e possível, eu perceberia que todos seguem algum objetivo, que muitos estão perdidos das suas canções, e com isso tem interferido na sinfonia dos outros, sejam humanos, animais, plantas, deuses ou encantados.
              Eu acho que um dia druídico seria assim, de compreensão e consciência do que é vivido.

domingo, 13 de março de 2016

30 Dias Druídicos - 26° Distrações


              Viver em uma sociedade moderna, que não descansa, que vive descartando coisas e tornando a vida em algo volúvel, é um dos maiores fatores para nos perdermos da vida consciente e deixarmos de seguir o nosso destino guiado pela Grande Canção.
              É uma eterna luta para sabermos quem somos, o que buscamos e o que nos define. Esses padrões proferidos socialmente, o padrão de vida ideal, que mata o passado, não pensa no futuro e só vive um presente imediatista, nos faz distrair-nos do nosso objetivo real no mundo.
              Nós, que escolhemos o Druidismo, o fizemos por não nos encaixarmos nesses padrões alienantes, por desejarmos mais do mundo e por ouvirmos o canto da terra, das almas que aqui já passaram, de todo o ser vivo, planta ou animal, dos espíritos, dos deuses antigos e encantados, e temos desde então sido o nosso constante criador e lutando para não nos tornarmos parte dessa massa, que vai sem saber para onde vai.

sábado, 12 de março de 2016

30 Dias Druídicos - 25° Pisando Leve

No meu caminho vou em passos leves,
Leves nos meus atos,
Minhas palavras
E ações.
E quando olhar para trás
Pelos olhos dos meus descendentes
Quero que eles vejam,
Meus passos leves,
De respeito à Terra
E sua vida sublime.
De respeito à toda vida
Visível e invisível,
Pois são em passos leves
Que nascem as mais lindas flores.

sexta-feira, 11 de março de 2016

30 Dias Druídicos - 24° Trabalho

             O trabalho, provavelmente, foi uma das coisas mais tomadas do homem, colocado na sociedade Moderna com a visão de apenas sustento das necessidades. Porém qual consciência isso carrega? Qual diferença isso faz?
               Vemos milhares de pessoas estressadas, juntando dias no outro, esperando que o próximo feriado chegue ou as férias. Não parece ter muito sentido nisso. Apenas um círculo vicioso, que faz o mundo um lugar de zumbis que não sabem o que é a vida.
               Hoje, era para termos ainda mais direito sobre o nosso trabalho, afinal, com o fim da Idade Média, acabaram-se as funções passadas de pai para filho, porém não é o que vemos, muitas vezes, não é possível ser.
               Mas acredito que todos nós temos o nosso papel no mundo, um papel que faz a Grande Canção tocar de forma bela, e não estamos acostumados a ouvir, é tanta cobrança social que as ondas passam levando as pessoas, sem que elas escutem as notas que soam seu coração, e vão vivendo tristes, cansadas e perdidas dentro dos seus trabalhos.

quinta-feira, 10 de março de 2016

30 Dias Druídicos - 23° Comunidade

           O sentimento de comunidade na antiguidade era algo muito forte, as pessoas se sentiam parte de um determinado grupo e trabalhavam por ele; naturalmente, essas comunidades eram constituídas por membros da família, então preservar a comunidade, era preservar sua própria família.
             Com o tempo a sociedade foi se fragmentando, criando sociedades com castas privilegiadas, e não é de se estranhar que a partir daí o sentimento comunitário venha se desmanchando, e criando um mundo individualista, da lógica de cada um por si.
             Mas, nós, como membros do Druidismo, temos o papel de pensar o mundo como uma grande comunidade, resgatar em nós o sentimento de tribo, e pensar nossos atos de maneira mais consciente, sabendo que cada um deles é importante e repercute na melhoria ou piora das coisas.
             Ser individualista e druidista me parece uma contradição muito grande, pois é não ouvir os ensinamentos dos nossos ancestrais de tradição. Ser druidista é ter consciência de bem comum, não apenas com os homens, mas com toda a vida na terra.

quarta-feira, 9 de março de 2016

30 Dias Druídicos - 22° Família e Amigos

            Acredito que nascemos em uma determinada família não por acaso, mas sim por uma identificação; aquela família tem algo a nos ensinar, e devemos ser extremamente gratos por isso. É a nossa primeira experiência social e ela vai nos ensinar como agir em comunidade, seja pelos seus erros ou acertos.
            Carregamos dessa família não somente nossa carne e sangue, como sua história, sentimentos e visão de mundo. E devemos saber o que fazer com isso, peneirar o que queremos para nossa identidade e o que não nos cabe. Porque nascer em uma família é uma missão, tanto de seguir a tradição com gratidão, e por outro lado quebrar padrões nocivos que vem prejudicando gerações. E acredite, seguir a tradição e romper os padrões serão abençoados e desejado pelos ancestrais da mesma forma.
            Quanto os amigos, não pode ser algo comum, a amizade é um encontro de almas, são aqueles que fazem nossas vidas mais inteiras e profundas. A amizade tem que ter o princípio Anam Cara, tem que ser almas que se reconhecem e fazem do viver algo profundo. Sim, passarão muitas pessoas pela vida, que te ensinarão pelo desagrado também. Porém, a amizade é um encontro de almas que para tornar o mundo melhor, com a sinfonia das belas notas produzidas pelo amor.

terça-feira, 8 de março de 2016

Histórias de Soberania

             Hoje é dia 8 de março, dia que recorda a luta de milhares de mulheres pelo mundo pela liberdade e igualdade. Por essa razão, trago duas lendas da Celtibéria para refletirmos um pouco.
           O Monte Pindo, a morada dos deuses, antes da chegada do cristianismo, foi governado por uma Rainha poderosa, a Lupina, que tinha o poder da magia e da transmutação. Seu palácio não ficava na terra, mas sim dentro do monte, provando seu lado encantado e de rainha dos mouros. Seus bois poderiam pastar pacificamente, mas quando necessário se tornavam em touros selvagens. E a própria Lupina podia se tornar em uma grande serpente. Porém os discípulos do apóstolo chegaram à península e dominaram a Rainha.
            Essa é a minha versão da história, pois a que chegou até nós foi uma compilação católica, para mostrar o poder do cristianismo sobre a religião pagã e com ele uma demonização da mulher, pois a versão oficial conta que a Rainha Lupina engana os discípulos de Santiago, dando-lhes bois mansos, que se transformaram em touros selvagens e a própria Lupina os afronta em forma de serpente, sendo vencida pelo poder cristão.
            Mas o que importa nessa lenda toda é o fato dela se chamar Lupina, o que mostrava sua face guerreira, posto que o lobo era o animal símbolo do guerreiro na Celtibéria , e seus bois/touros, o poder como monarca, e a serpente que traz-nos, pelo simbolismo desse animal na península, uma rainha que conhecia os mistérios da vida, morte e fertilidade, e fazia bom uso deles.
           Outra história é o poço da Xana; durante a conquista moura na Península Ibérica, o rei espanhol para agradar o rei mouro, capturava moças para entregar em casamento aos mouros, no entanto, um dia capturaram uma moça nas Astúrias e, no caminho, a moça enganou aos soldados, dizendo que dançaria para eles. Ela foge até um poço e uma voz de dentro dele diz para que ela pulasse no poço, que assim seria salva, e ela assim o faz, mas quando sai deste, o sai transformada e torna os soldados em cordeiros.
           O capitão preocupado com o sumiço dos seus soldados, manda outro grupo, e o mesmo lhes sucede. Assim o próprio capitão vai até a região e ao chegar próximo ao poço ver a cena de uma moça vestida de branco fiando lã de cordeiro, ele de imediato percebe que é uma mulher encantada e pergunta o que aconteceu com seus soldados, e ela responde que só viu cordeiros, e o capitão se vira e vê que os soldados que o havia acompanhado agora haviam se transformado no animal.
             A Xana diz ao capitão que eles podiam entrar em um acordo, desde que eles nunca mais mandassem moças ao rei mouro e ela devolveria os soldados a forma humana, e assim se fez.
             Agora o porquê dessas histórias em um dia como hoje? Porque nelas estão os ensinamentos necessários para luta contra o patriarcado, pois ir de encontro à Soberania feminina é atingir a fertilidade, a vida, a morte e a magia da existência, é atingir o cíclo natural, e isso nos traz consequências. O desequilíbrio social que vemos hoje, tem muito haver com isso.
            E para dizer que nós, mulheres não aceitaremos isso, lutaremos como lobas, cada ano que passa estamos descobrindo a magia da serpente e a fartura e a fúria dos touros bravos. E no campo do patriarcado não há soldados, há apenas cordeiros. Estamos tomando de volta nossa soberania.

segunda-feira, 7 de março de 2016

30 Dias Druídicos - 21° Vida Consciente

Quero caminhar por essa terra
Tendo a ciência de como nos tocamos,
Quero sentir o vento,
Ver o sol nascer com seu esplendor,
Sabendo que todo dia é um dia novo para construir.
Sei que a vida não é apenas dias que se unem a outros
A vida é o encontro,
A descoberta,
Amor e respeito
Por tudo que somos
E interagimos.
Tudo que tocamos,
Tudo que sentimos,
Que fazemos e sonhamos
Faz do mundo algo diferente.
Então, viver é ter consciência
Dos momentos vividos,
Fazer deles verdadeiros
E cheios de sentido.

domingo, 6 de março de 2016

30 Dias Druídicos - 20° Oração

             A oração é uma conversa embutida de sentimentos com os deuses, assim como para construir uma amizade forte e duradoura, apresentamo-nos sem máscaras diante dos nossos amigos, assim também deve ser com os deuses.
           A oração é uma construção, cada vez que conhecemos mais a essência dos deuses e eles as nossas, maior o laço de amizade e companheirismo se tornará, é uma questão de convivência e plena sinceridade. É uma expressão daquilo que verdadeiramente somos, sentimos e desejamos.
            Em uma amizade é estranho procurar os nossos amigos apenas quando precisamos de algo, não há um castigo ou punição por isso, só não há de fato uma amizade. E se desejo uma amizade, um elo, eu digo aos meus amigos coisas bonitas, de como eles fazem bem certas coisas, digo-lhes: "lembrei de você e te trouxe algo que acredito que te deixará feliz." Uma amizade assim não recusará e até desejará que seja procurada em momentos de pura tristeza e fim do caminho.
             Ou seja, nutra sua amizade com os deuses, diga-lhes coisas belas, seja sincero, e terá amigos confiáveis e duradores.

sábado, 5 de março de 2016

30 Dias Druídicos - 19° Magia

              A magia é o ato de transformar uma realidade em outra, portanto, sem a magia o mundo seria um lugar pronto e acabado.
             Acreditar na magia é acreditar na vida e na nossa capacidade de autores dela, por meio da magia eu crio e recrio o mundo.
             A magia está ligada às palavras e o agir delas no mundo, ela é embutida dos mais verdadeiros sentimentos humanos.
              Ela faz parte da conexão com a Grande Canção, por isso ela muda a realidade de quem entoar aquelas notas, mas para atingir outras pessoas, as notas terão que tocar essas pessoas, e isso se faz através do sentir.
              A magia, portanto, é arte de transformar as coisas por meio do sentir, é como uma poesia que só é poesia se tocar as outras pessoas, caso contrário só são meras palavras.

sexta-feira, 4 de março de 2016

30 Dias Druídicos - 18° Ciência e Filosofia

             Não há uma separação real entre ambas, no mundo antigo a ciência das ervas, das estações do ano e entre outros estavam ligados à sua filosofia.
            Acredito que até hoje ambas se cruzam, a ciência está submetida à visão de uma sociedade, sua filosofia, portanto. Se hoje vemos a ciência agindo de forma violenta sobre a natureza, criando uma artificial em laboratórios, não respeitando seus ciclos, é justamente porque vivemos na Modernidade a filosofia do imediatismo, onde as vontades humanas estão acima de tudo.
             E, hoje, como membros do Druidismo, nos vemos compilados a buscar o ressurgimento de uma ciência que nos traga de volta, a filosofia natural dos vates, que usavam as propriedades das ervas com sabedoria. A filosofia que recusa tirar demais da terra, e nós veja como parte de tudo.

quinta-feira, 3 de março de 2016

30 Dias Druídicos - 17° Ética

           A sociedade tem se definido muito mais por códigos morais do que éticos, afinal, ser rebanho parece muito mais simples do que ter domínio sobre seus próprios anseios, o que exige coragem acima de tudo.
            A ética, ao meu ver, está muito próximo da figura do guerreiro, e dentro do Druidismo, portanto, está ligado ao conceito de Soberania.
             Para sermos éticos temos que, em primeiro ponto, sabermos o que buscamos, qual é o destino que nos espera, e ir à conquista disso, não é a regra do tudo pode, posto que todos temos que ter ciência de que, ao adotar uma postura na vida, temos pessoas conosco, que também tem seus direitos, e não podemos defini-las aos nossos anseios, assim como nós aos delas.
             A postura ética parte também do respeito, ela não é uma licenciosidade; se eu tenho comigo que só serei ético e soberano se seguir as verdades que me fazem melhor, vou acreditar que para outras pessoas também é assim.
            O Druidismo me mostra um caminho de respeito e integração à natureza, ligação à tribo, respeito à ancestralidade, o valor da coragem e da soberania, a busca pelo equilíbrio, a vida cíclica e entre outros ensinamentos, e isso tocou o meu coração, e a partir de então isso faz parte da minha busca, e toda vez que trilho algo para isso estou sendo ética com meu propósito de vida. Mas isso não tocou toda a humanidade e se eu tentasse impor essa verdade a todos, estaria sendo antiética.
            Porque a ética não é um conjunto de valores coletivo, posto de cima para baixo, isso é a moral, a ética é uma conquista e a construção de um indivíduo, que entende que tais paradigmas lhe define. Uma sociedade pode, e deveria ser regra, ser ética, permitindo que os indivíduos tenham o direito de construir os seus anseios, não padronizando a todos, como temos visto a sociedade moral fazer.

quarta-feira, 2 de março de 2016

30 Dias Druídicos - 16° Poesia

No fim do dia,
Na tormenta do existir,
Quando tudo parecer confuso
Ou quando tiver algo que aprender,
Quero ouvir nos versos do bardo
O conhecimento antigo
E a produção do novo.

Que venham profecias,
Encantamentos,
Histórias,
Ensinamentos,
Tudo em belos versos.

Esse nobre ofício,
Esse nobre encanto,
Faz da vida uma doce canção
E do coração um fogo sempre aceso.

terça-feira, 1 de março de 2016

30 Dias Druídicos - 15° Histórias

           Por meio das histórias é que vamos construindo os valores de uma sociedade, o que lhe é importante e os ensinamentos para as futuras gerações.
           Quando nos debruçamos sobre as histórias do folclore celta, do qual os valores são fundamentos da religiosidade druídica, percebermos o que essa sociedade prezava e vislumbramos a luz de um caminho.
             Primeiro ponto vemos a crença na sabedoria da natureza e no seu poder de cura, na história do manto de Airmid.
             O valor da música como interação nos sentimentos humanos em Harpa do Dagda. A esperança e a força dos sonhos no Sonho de Óengus, o valor da verdade e justiça no Castelo de Mannánan e sua taça. A união da morte e da vida para um novo começo, no encontro do vau de Dagda e Morrighan, como também na mesma história, a aceitação da Soberania, que pressupõe aceitar o destino, a morte e as coisas por qual vale a pena lutar.
            Essas histórias são apenas exemplos de alguns dos valores, porém o mais importante em tudo, é percebermos o qual necessário é preservarmos as nossas histórias, cada vez que as contamos, fortalecemos os nossos valores e descobrimos qual é o nosso caminho.

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

30 Dias Druídicos - 14° Meditação

Existem duas formas de meditação, um em que criamos um espaço e vivenciamos algo lá, e outra, de aquietar a mente, entregando-se ao silêncio ou a observação pura e simples de algo.
           Na primeira podemos conhecer o que trazemos dentro de nós, quais são as mensagens dos nossos desejos, medos e necessidades que não temos ouvido. Podemos entrar em contato com o nosso espírito e alma, e com tudo o que nos acompanha.
           A segunda é um ótimo exercício de esvaziamento, trabalha com o mundo como ele é, e ao sair dessa meditação, podemos perceber como moldamos e padronizamos as coisas, deixando de ver o real.
           Não há uma prática melhor do que a outra, ambas emanam uma imensa sabedoria, a sabedoria do conhecimento. E assim nos centramos, nos conhecemos e podemos ser atuantes e não passivos.

30 Dias Druídicos - 13° Inspiração

São os ecos da Grande Canção,
Quando a beleza vem à minha alma,
Não pode ser algo comum,
Só pode ser divino,
Essas palavras que tocam com sabedoria e beleza,
Que transforma o mundo,
Que pinta de cores uma tela,
Que enche instrumentos de notas belas,
Que contam histórias dos homens, deuses e encantados,
Não pode ser comum,
Quando nossos caminhos se cruzam,
E sua fala, sua arte e beleza
Conversam com as minhas.
Só pode ser divino,
Essa força que não sabemos de onde vem.
Porém, quando nos toca, por um momento,
Transformamos o ordinário em algo belo
E temos preenchido a minha e a sua alma de algo incomensurável e precioso.

sábado, 27 de fevereiro de 2016

30 Dias Druídicos - 12° Roda do Ano

            Samhain é momento de estar dentro, dentro de mim, entendendo quem sou, o que devo deixar no campo, o que não serve mais. É um tempo fora do tempo, é um espaço fora do espaço, momento de olhar o rio que corre na alma e saber quais são as heranças ancestrais, qual é o destino. É o dia do pacto com a Soberania, para isso é necessário silêncio e entrar sem medo nos mistérios da existência, vida e morte. Só sabendo a missão da vida é que terei direito à Soberania.
            Imbolc é a esperança que brota, é o leite que nutre, que dá forças para seguir os planos, é a água da fertilidade, é a água da vida, é a aprendizagem da forja, é o amor de mãe, é o amor de Brighid, fertilizando, curando, nutrindo e criando.
            Beltane é o tempo da vontade, é o tempo da vida em ação, de plantar os mais belos sonhos e de lutar nas mais dignas batalhas. É o sol luzindo e criando o prazer de viver.
             Lughnasadh é o momento de gratidão e de colher os frutos que a vida permitiu, de aprender que não há outro modo de ser, você é e recebe apenas o que plantou, não pode ser diferente, aprenda e agradeça, você é autor da sua história.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

30 Dias Druídicos - 11° Ritual

            Mais do que apenas celebrar, o ritual é marcar um momento, é tornar ele algo especial, é a quebra do tempo e espaço comum, como se disséssemos que a partir daqui começamos algo diferente. Ele é o marco da mudança de estágio. Porém sem deixar de levar em consideração que nada se extingue, que somos o acúmulo das nossas experiências e das pessoas que interagimos.
            Na História da humanidade, o que mais temos são rituais, vivemos saindo de um estágio para outro, a diferença é que a sociedade moderna parou de sacralizar seus ritos, tornando a maioria em assuntos burocráticos, comerciais ou de calendário.
             No entanto, o ritual é um dos fatores mais importantes para a vida saudável da humanidade, é através do rito que descobrimos quem somos e traçamos nosso caminho, é para ele que voltamos quando nos perdemos. O rito transforma a vida sagrada e bela, pois ele quebra a normalidade das coisas e transborda a energia transformadora. Recordamos através dele a divindade das coisas e de nós mesmo. E o principal, tornamo-nos mais gratos e conscientes ao percebermos que tudo na vida é cíclico.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

30 Dias Druídicos - 10° Espíritos da Natureza


          Assim como cada um de nós, humanos, temos o nosso próprio eu que nos torna diferente uns dos outros, dentro de um corpo físico, tudo na natureza tem seu próprio eu, suas características distintas e únicas, que estão relacionadas àquele corpo. Um determinado carvalho vai ter sua própria identidade, essa essência que o torna diferente de outro carvalho. E quando ele morre esse espírito vai com ele, pois é sua característica.
            Quando tentamos mudar as essências das pessoas, e elas passam a seguir padrões que não são seus, elas adoecem; podemos ver que pessoas com depressão sentem-se como se não existissem, elas se silenciam, porque foram-lhes postos padrões que não competem com seu espírito. O mesmo acontece com os espíritos da natureza, se passamos a ditar-lhes padrões que não são seus, eles adoecem, entram em stress, fadiga e tristeza. Então, não é estranho vermos frutos e flores fora de épocas, rios e ventos fora de controle, entre outros.
            Tal desequilíbrio do espírito da natureza, pois está tudo ligado, causa doenças e desequilíbrios em tudo o que está vivo sobre a Terra, e assim vemos doenças em massa. O câncer e as doenças autoimunes são, provavelmente, um dos resultados do desrespeito aos espíritos da natureza.
             Não há como se desligar, um mal que acontece algum espírito, acontece a todos, afinal somos um organismo vivo, quando um adoece, todos adoecem.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

30 Dias Druídicos - 9° Ancestrais

Já preparei a mesa, está tudo servido.
Já acendi o fogo, e estou pronta.
Contem-me suas histórias,
Seus acertos e erros,
Cantem-me as suas canções,
Falem-me de tudo que um dia fez pulsar o seu coração.
Só quero me ver melhor,
Sei que muito de vocês está em mim.
Quero louvar as coisas boas,
Bem como quero, por vocês, trilhar um caminho melhor,
Talvez, em algum ponto, consertando aqueles erros que vocês não enxergaram.
Nasci nessa família,
Meu sangue tem suas histórias;
Nasci nessa terra,
Meus passos têm suas histórias;
Trilho esse caminho espiritual,
Minha alma tem suas histórias.
Então, peço, diante dessa mesa posta,
Desse fogo aceso,
Contem-me em poesia, conto ou música,
As suas histórias.
Podem-me sussurrá-las nos ventos,
Podem me contar em um sonho,
Eu espero...
Eu escuto...
Eu sinto...
Vocês estão em mim
E sou parte das suas histórias.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

30 Dias Druídicos - 8° Divindades e Crenças

         O primeiro ponto nesse assunto é que sou politeísta, pelo fato de acreditar que assim como nós somos diversas pessoas, os deuses também são diversos, com suas histórias, famílias e características próprias, voltados para algumas atividades e outras não, da mesma forma que nós, humanos.
         Por outro lado, acredito que todos nós somos parte de uma força imensa, A Grande Canção, e que ela vai formando as nossas vidas e nós vamos a formando também. A cada geração, a Canção vai ganhando novas notas, às vezes belas e outras nem tanto, e a falta de harmonia na Canção causa mal-estar, da mesma forma que se formos à uma apresentação de orquestra e os músicos começarem tocar de forma desarmoniosa.
           Como politeísta, tenho culto a diversos deuses do panteão celta, tendo uma proximidade maior com o panteão irlandês e o celtibérico. Porém, dentro de tais panteões, por identificação e um sentimento de amor, e o amor não se explica, mantenho devoção a Óengus e Brighid no irlandês, e Nábia no celtibérico. A devoção para mim é uma espécie de amor e pertencimento, é como se dissesse sou parte de você e por isso me devoto a você de todo coração, trago-lhe uma poesia em forma de oração e hoje te sirvo algo que gosta, e assim procuro te ter próximo a mim.
          No demais, acredito na sacralidade da natureza, que ela está repleta de espíritos guardiões. Acredito na existência do outro mundo, onde os ancestrais vivem e pode nos auxiliar e ensinar, seja com seus erros ou acertos. Bem como a crença nos seres feéricos, seres que pode nos auxiliar ou não, mas não deixam de ser os nossos vizinhos, mesmo com uma natureza e moral diferente da nossa.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

30 Dias Druídicos - 7° Práticas Diárias

           Ao pensarmos em alguma religião ou caminho espiritual, sempre vem a inquietação do que se pode ser feito quando não estamos em grupo, o que fazemos diariamente para estar em contato com o divino.
            As orações diárias, provavelmente, são a primeira opção que vêm às nossas mentes, afinal, por elas pedimos proteção, sabedoria no agir e falar e somos gratos aos deuses e espíritos guardiões por terem estado conosco, como também gratidão pela bondade da terra  por nos dar o alimento.
             Oferendas aos ancestrais e aos espíritos da natureza, com qual dividimos a Terra também pode ser uma das práticas, afinal é uma forma de respeito e honra.
             A meditação também encaixa em forma de prática diária, pois é através dela que conseguimos nos equilibrar, dentro do caos do dia-a-dia, como também sabermos quem somos, em um mundo em que as individualidades se perdem na massificação. Bem como entender fatos que não havíamos entendido ou encontrado solução.
             No entanto, uma prática que é muito significativa para mim é a contemplação, gosto de ouvir, silenciosamente, o vento nos anunciadores da varanda da minha casa, o canto de diversos pássaros, observar as multicolores borboletas, as árvores que resistem em São Paulo, a represa e as diversas aves que nela habitam, o céu e suas nuvens, as tonalidades que o nascer ou por de sol ocasiona nele, e a lua em suas diversas fases. Contemplar o sabor das bebidas e comidas, bem como o cheiro da Dama da Noite e do mato e terra quando chove ou anoitece, e o solo começa esfriar e os aromas subirem. Essa prática me faz entrar em um estado de beleza e preenchimento incomensurável, o que me faz uma pessoa melhor e mais nobre, por isso me toca muito fazê-la, diariamente.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

30 Dias Druídicos - 6° Espaços Sagrados


          Diferente de gregos e romanos, que tinham templos de adoração aos seus deuses, fazendo da construção humana um espaço sagrado, os povos celtas tinham seus espaços sagrados na natureza, pois era nela que estavam seus deuses, antepassados e espíritos encantados.
             Era nos bosques a realização de diversos ritos, porque ali estava o nemeton, o espaço sagrado, podiam estar em contato com axis-mundi, e o homem podia alcançá-lo na conexão com as árvores.
             O espaço sagrado estava nas águas, que poderiam curar, trazer fertilidade ao solo ou passagem para o mundo dos mortos e encantados.
             Estava nas grandes montanhas, pedras que recebiam a luz solar e carregavam em si grandes sabedorias e energias.
              A natureza, como um todo, era um espaço sagrado, pois qualquer parte dela poderia ser morada de algum espírito, e procurava-se viver em harmonia com ele.
               Hoje nem sempre temos a possibilidade de estarmos em meio às árvores, rios, montanhas e outros, por isso tentamos recriar esse espaço sagrado, o nemeton, na forma de altares ou em meditações que permitam conhecer dentro de nós esse espaço, posto que dentro de nós está todo o mundo, somos partes indivisíveis do todo, como vimos nos nove elementos.
            E todas as vezes que podermos estar na natureza sagrada, independente do lugar, podemos nos conectar à sacralidade e sermos gratos, e até mesmo educados com os espíritos levando-lhes oferendas.

sábado, 20 de fevereiro de 2016

30 Dias Druídicos - 5° Os Nove Elementos

                O conceito dos nove elementos pode parecer estranho para aqueles que estão acostumados com a concepção de quatro ou cinco elementos; no entanto, a partir do momento em que entramos em contato com ele vemos todo o sentido; principalmente se associarmos os elementos da terra com o nosso corpo.

Sou parte dessa terra,
Seus elementos carrego em mim:
No expandir e mover
Trago o vento na minha respiração.
Como o mar que vai e vem é o sangue bombeado pelo meu coração.
Da nuvem vem o meu cérebro em constante movimentação.

Sou parte dessa terra,
Seus elementos carrego em mim:
No mais sólido e visível
Trago as rochas de força e sustentação nos meus ossos,
Moldável como a terra são as carnes do meu corpo, que o tempo vem transformando.
No crescer e aparar estão meus cabelos e pelos, que cobrem o meu corpo, como a vegetação que cobre a terra.

Sou parte dessa terra,
Seus elementos carrego em mim:
No mais alto e iluminado
Está a minha cabeça, assim como o céu sobre a terra,
A minha mente tem tantas fases como a lua, já foi criança, jovem, agora mulher, e um dia, velha,
O vigor e a energia do sol estão na minha face, a minha representatividade no mundo.
Por isso, sou parte dessa terra,
E seus elementos estão em mim.