Hoje é dia 8 de março, dia que recorda a luta de milhares de mulheres pelo mundo pela liberdade e igualdade. Por essa razão, trago duas lendas da Celtibéria para refletirmos um pouco.
O Monte Pindo, a morada dos deuses, antes da chegada do cristianismo, foi governado por uma Rainha poderosa, a Lupina, que tinha o poder da magia e da transmutação. Seu palácio não ficava na terra, mas sim dentro do monte, provando seu lado encantado e de rainha dos mouros. Seus bois poderiam pastar pacificamente, mas quando necessário se tornavam em touros selvagens. E a própria Lupina podia se tornar em uma grande serpente. Porém os discípulos do apóstolo chegaram à península e dominaram a Rainha.
Essa é a minha versão da história, pois a que chegou até nós foi uma compilação católica, para mostrar o poder do cristianismo sobre a religião pagã e com ele uma demonização da mulher, pois a versão oficial conta que a Rainha Lupina engana os discípulos de Santiago, dando-lhes bois mansos, que se transformaram em touros selvagens e a própria Lupina os afronta em forma de serpente, sendo vencida pelo poder cristão.
Mas o que importa nessa lenda toda é o fato dela se chamar Lupina, o que mostrava sua face guerreira, posto que o lobo era o animal símbolo do guerreiro na Celtibéria , e seus bois/touros, o poder como monarca, e a serpente que traz-nos, pelo simbolismo desse animal na península, uma rainha que conhecia os mistérios da vida, morte e fertilidade, e fazia bom uso deles.
Outra história é o poço da Xana; durante a conquista moura na Península Ibérica, o rei espanhol para agradar o rei mouro, capturava moças para entregar em casamento aos mouros, no entanto, um dia capturaram uma moça nas Astúrias e, no caminho, a moça enganou aos soldados, dizendo que dançaria para eles. Ela foge até um poço e uma voz de dentro dele diz para que ela pulasse no poço, que assim seria salva, e ela assim o faz, mas quando sai deste, o sai transformada e torna os soldados em cordeiros.
O capitão preocupado com o sumiço dos seus soldados, manda outro grupo, e o mesmo lhes sucede. Assim o próprio capitão vai até a região e ao chegar próximo ao poço ver a cena de uma moça vestida de branco fiando lã de cordeiro, ele de imediato percebe que é uma mulher encantada e pergunta o que aconteceu com seus soldados, e ela responde que só viu cordeiros, e o capitão se vira e vê que os soldados que o havia acompanhado agora haviam se transformado no animal.
A Xana diz ao capitão que eles podiam entrar em um acordo, desde que eles nunca mais mandassem moças ao rei mouro e ela devolveria os soldados a forma humana, e assim se fez.
Agora o porquê dessas histórias em um dia como hoje? Porque nelas estão os ensinamentos necessários para luta contra o patriarcado, pois ir de encontro à Soberania feminina é atingir a fertilidade, a vida, a morte e a magia da existência, é atingir o cíclo natural, e isso nos traz consequências. O desequilíbrio social que vemos hoje, tem muito haver com isso.
E para dizer que nós, mulheres não aceitaremos isso, lutaremos como lobas, cada ano que passa estamos descobrindo a magia da serpente e a fartura e a fúria dos touros bravos. E no campo do patriarcado não há soldados, há apenas cordeiros. Estamos tomando de volta nossa soberania.
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