segunda-feira, 15 de agosto de 2016

O Nascimento

       
     
         Abri os olhos e ao meu redor estava um mundo desconhecido, não era nada desse tempo, era algo muito antigo, eu não mais me vestia com as roupas que dormira, o que ficava claro que aquilo era um sonho e o abrir os olhos era só uma metáfora para enxergar com alma.
         As minhas roupas eram completamente brancas e na minha cabeça estava uma coroa de flores primaveris, me senti meio criança vestida daquela maneira. Estava em uma belíssima colina, onde o sol nascia em uma perfeita alvorada, as sombras da noite iam aos poucos se desvanecendo e as tonalidades de rosa e vermelho enfeitavam todo o céu e um vento ameno percorria o amanhecer.
          "Foi nessa hora que fui gerado, sou semente da alvorada"
          Virei-me assustada para a voz que me falava, jurava está sozinha, mas não estava. O menino de cabelos louros, bochechas rosadas e olhos azuis se aproximou e sentou-se à minha frente.
           "Ouviu o que disse?" Assenti com a cabeça, não conseguia falar, aqueles olhos azuis eram quentes como brasa e a beleza do menino era tamanha que não podia ser humana. Ele riu, riu, provavelmente, do meu medo, era um riso tão forte e brincalhão, e acabei por rir também. "Percebe que é nessa hora que nasce a esperança no mundo? É nessa hora que as coisas tem potencial de ser?
             " Como se chama?"
             "Nomes são, realmente, importantes?"
              "Suponho que eles nos dão identidade"
              " Supõe errado. As vivências nos dão identidade. Nomes são apenas desejos, desejos e lembranças. É melhor que saiba os motivos do meu nome, do que ele próprio."
               " Sim, parece algo bom"
               " Fui gerado na alvorada e nascido no entardecer, em um dia que durou nove meses. Veja!"
               Ele colocou as mãos nas minhas têmporas, as mãos eram tão quentes, que pareciam capazes de me queimar, fui transportada para um espaço diferente, um lugar feito de pedras, escuro e frio, senti medo, muito medo, porém a luz solar entrou por uma fresta da construção, enchendo tudo de claridade e calor.

             "Viu?" A voz dele me trouxe de volta e ele ria sentado na minha frente.
            "Não vi seu nascimento"
            " Vocês nunca entendem nada. A volta da luz solar foi por muitos séculos a esperança que enchia os corações humanos. Hoje, vocês vivem no escuro e frio, mas não sabem em que ter esperança, por isso não sabem quem eu sou."
           E, simplesmente, desapareceu, o que me fez acordar, sentido em mim ainda o calor do menino.

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