O verão chega na Península Ibérica e com ele a incidência de raios vindo das nuvens. No norte de Portugal, Galiza e Astúrias, também Cantábria, longe das explicações geográficas climáticas, mas no folclore se tem um nome ou vários nomes para identificar o mesmo ser causador desse fenômeno, o nubeiro, o granizero, renuvero, Xuan Cabrito.
Quem é ele afinal? É um ser imenso ou muito pequeno, que vem das montanhas, das planícies distantes, montado nas nuvens como cavalos, lançando raios, com barulhos estrondosos, e tempestades veraneias. Dizem que seu corpo é velho e enrugado, as orelhas são pontudas e seus olhos são chamas acesas.
Esse ser com aparência assustadora e diabólica, costuma fertilizar a terra com suas águas, fica feliz em ver seu trabalho e uma vez ou outra desce das suas nuvens para contemplá-lo, para uma visita aos humanos, também há quem conte que vez ou outra seus cavalos de nuvem caiem na terra e ele os vem buscar. A questão toda está que é nesse momento que a amizade ou a inimizade entre ele e os humanos são travadas. Se encontrar um agricultor e esse lhe for grato e aceitar hospedá-lo, fará da sua plantação a mais abundante e fértil, do contrário, se o desrespeitarem, destruirá sua plantação com suas águas e raios.
Sabemos que deuses e deusas com a conquista cristã do mundo pagão ganharam dois fins: o altar dos santos ou as figuras assustadoras do folclore. Se hoje, a antiga Callácia o chamam de Nubeiro, em passados remotos, antes da dominação romana o chamaram de Reue, o senhor da Serra do Larouco, localizada na região transmontana de Barroso, na fronteira entre Vila Real (Portugal) e a Galiza (Espanha), onde em uma igreja próxima foi encontrada uma imagem sua, um deus com um martelo e um falo avantajado, confirmando sua relação com os raios, trovões e tempestade, e seu caráter de deus fertilizador.
Figura encontrada na igreja de Vilar de Perdizes, também chamada de São Miguel, o arcanjo brilhante, próxima ao Monte Larouco.
Reue também foi chamado da planície distante. Na Astúrias e Cantábria de Candamos, o branco, luminoso, aquele que brilha. Mesmo em um hipótese de Candamos ser um deus distinto, de culto asturiano e cantábrio, suas semelhanças com o Reue galego e português, ambos chamados de Júpiter Celta, relacionados à montanhas e ao fenômeno climático das tempestades, raios e trovões, bem como sua ligação folclórica com os nubeiros, nos faz crer que Candamos é mais um epíteto de Reue, assim como Larouco.
Outros epítetos de Reue, Laganitaeco, Anabaraecus e Reumiraegus, para alguns estudiosos, como José María Blázquez, o ligaria as correntes fluviais, alguns chegaram a levantar a hipótese de que seria uma divindade feminina ligada aos rios e guerreira ao mesmo tempo, o que não parece claro que no mesmo território de Nábia houvesse uma outra deusa com as mesmas características.
Por outro lado, Olivares Pedreño nos traz uma possível interpretação para a característica fluvial de Reue, posto que inúmeros devotos foram encontrados nas montanhas, muito mais do que em rios, Reue seria aquele que enche os rios com suas chuvas vinda das montanhas ou mesmo neves dos cumes dessas, o que enche o rio Langanida ou o Reumira.
Com tudo apontado, podemos caracterizar Reue como um deus da fertilidade, da bonança, um deus generoso, pronto a abençoar a todos aqueles que o acolhe em seus lares e são agradecidos aos seus feitos. Também é o deus das tempestades, das nuvens cheias de raios, o barulho estrondoso do seu martelo exige devoção e respeito. Quando ele vem das suas montanhas, de planícies distantes, fertilizando a terra e enchendo rios, no verão, é hora de louvá-lo, de ser grato e respeitoso.
BIBLIOGRAFIA:
ABAD, Rosa Brañas. Entre Mitos, Ritos e Santuarios. Los Dioses Galaico-Lusitanos. In: Los Pueblos de la Galicia Céltica. Org. GARCÍA, F.J González. Akal Universitaria. Madrid: 2007.
CABRERO, J. C. Alvarez. Mitología Asturiana. Editora Pata Negra. Oviedo: 2016.
PEDREÑO, Juan Carlos Olivares. Los Dioses de la Hispania Celtica. Real Academia de la Historia. Universidad de Alicante: 2016.
‐--------------------- Divindades Indigenas de la Hispania Romana. Tesis Doctoral Universidad de Alicante.
RODRÍGUEZ, Martín Sevilla. Posibles Vestigios Toponímicos de Cultos Célticos en el Norte de la Península Ibérica in: Memorias de historia antigua Nº 3, págs. 261-271. Alicante: 1979
Sites:
http://www.elcaminencantau.com/
https://verasturies.com/ast/seres-magicos-de-la-mitologia-asturiana/
http://narradoresdelmisterio.net/seres-mitologicos-gallegos-el-nubeiro
https://astures.es/mitologia-asturiana-el-nuberu/